“O SENHOR
fez todas as coisas para determinados fins e até o perverso, para o dia da
calamidade” (Provérbios 16.4).
“Não falo
a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para
que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu
calcanhar” (João 13.18).
“E aos
que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8.30).
“...assim
como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção
de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade...” (Efésios 1.4-5).
“Entretanto,
devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque
Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito
e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para
alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Tessalonicenses 2.13-14).
Poucas
doutrinas suscitam tanta polêmica ou provocam tanta consternação como a
doutrina da predestinação. Trata-se de uma doutrina difícil, que precisa ser
discutida com grande cuidado e precaução. Apesar disso, trata-se de uma
doutrina bíblica, com a qual temos de lidar. Não devemos ousar ignorá-la.
Praticamente,
todas as igrejas cristãs têm algum tipo de doutrina sobre a predestinação. Isso
é inevitável, visto que o conceito claramente se encontra nas Escrituras.
Muitas igrejas, entretanto, discordam – muitas vezes veementemente — quanto ao
seu significado. O ponto de vista metodista é diferente do ponto de vista
luterano, o qual discorda do ponto de vista presbiteriano. Embora seus pontos
de vista difiram, cada um deles está tentando chegar a uma sólida compreensão
desta difícil questão de maneira apropriada.
Em sua
forma mais elementar, a predestinação significa que nosso destino final, seja o
céu ou o inferno, é decidido por Deus não somente antes de irmos para lá, mas
até mesmo antes que tivéssemos nascido. A predestinação ensina que nosso
destino final está nas mãos de Deus. Outra maneira de expressar isso é: Desde
toda a eternidade, antes mesmo que nós existíssemos, Deus decidiu salvar alguns
membros da raça humana e permitir que o resto da raça humana perecesse. Deus
fez uma escolha – escolheu alguns indivíduos para serem salvos na eterna bênção
do céu e escolheu passar por sobre outros, permitindo que sofressem as
conseqüências dos seus pecados no tormento eterno do inferno.
A
aceitação desta definição é comum a muitas igrejas. Para chegar ao âmago da
questão, alguém deve perguntar: como Deus fez tal escolha? O ponto de vista
não-reformado, defendido pela grande maioria dos cristãos, é que Deus faz essa
escolha com base em sua presciência. Deus escolhe para a vida eterna aqueles
que sabe que o escolherão. Esse conceito é chamado de visão presciente da
predestinação, porque baseia-se na presciência de Deus quanto às decisões ou
ações humanas.
A visão
reformada difere no fato de que ela vê a decisão final para a salvação nas mãos
de Deus, e não nas mãos do homem. Segundo este ponto de vista, a eleição de
Deus é soberana. Não se baseia em decisões ou respostas previstas por parte dos
seres humanos. Aliás, vê tais decisões fluindo da graça soberana de Deus.
O ponto
de vista da Reforma afirma que nenhuma pessoa caída jamais escolheria a Deus
por iniciativa própria. Pessoas caídas ainda têm livre-arbítrio e podem
escolher o que desejam. O problema é que não nutrem nenhum desejo por Deus e
não escolherão a Cristo a menos que sejam antes regeneradas. A fé é um dom que
procede do novo nascimento. Somente aqueles que foram eleitos responderão com
fé ao Evangelho.
Os
eleitos escolhem a Cristo somente porque antes foram escolhidos por Deus. Como
no caso de Esaú e Jacó, o eleito foi escolhido exclusivamente com base no
beneplácito soberano de Deus e não com base em algo que tivessem feito ou
desejado fazer. Paulo declara: “E não ela somente, mas também Rebeca, ao
conceber de um só, Isaque, nosso pai. E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem
tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à
eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a
ela. O mais velho será servo do mais moço... Assim, pois, não depende de quem
quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos 9.10-12,
16).
O
problema mais incômodo envolvendo a predestinação é que Deus não escolhe ou
elege salvar todas as pessoas. Ele reserva para si o direito de ter
misericórdia de quem quer ter misericórdia. Alguns membros da humanidade caída
recebem a graça e a misericórdia da eleição. Deus ignora o restante, deixando-os
em seus pecados. Os não-eleitos recebem justiça. Os eleitos recebem
misericórdia.
Ninguém é
tratado com injustiça. Deus não é obrigado a ser misericordioso igualmente com
todos. É decisão dele o quanto será misericordioso. Mesmo assim, nunca pode ser
acusado de ser injusto com qualquer pessoa (ver Rm 9.14,15).
Em resumo:
1. A
predestinação é uma doutrina difícil e deve ser tratada com cuidado.
2. A
Bíblia ensina a doutrina da predestinação.
3. Muitos
cristãos definem a predestinação em termos de presciência de Deus.
4. A
visão da Reforma não considera a presciência como uma explicação para a
predestinação bíblica.
5. A
predestinação baseia-se na escolha de Deus e não na escolha dos seres humanos.
6.
Pessoas não-regeneradas não nutrem nenhum desejo de escolher a Cristo.
7. Deus
não elege todas as pessoas. Reserva para si o direito de ter misericórdia de
quem quer.
8. Deus
não trata nenhuma pessoa injustamente.
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Texto de R. C. Sproul. Verdades essenciais da fé cristã. Editora
Cultura Cristã.