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┘•┌ Série OFÍCIOS DE CRISTO: INTRODUÇÃO
1 | A IDEIA DOS OFÍCIOS NA NATUREZA
É costume falar de três ofícios com relação à obra de Cristo, a saber, os ofícios profético, sacerdotal e real. Embora alguns dos chamados pais primitivos da igreja já falassem dos diferentes ofícios de Cristo, Calvino foi o primeiro a reconhecer a importância de distinguir os três ofícios do Mediador e chamar a atenção para isto num capítulo específico das suas Institutas (Livro II, cap. XV).
Entre os teólogos dogmáticos luteranos, Johann Gerhard (1582-1637) foi o primeiro a desenvolver a doutrina dos três ofícios. No entanto, seu sobrinho Johannes Andreas Quenstedt (1617-1688) considerava a distinção tríplice como deveras não essencial. Ele chamou a atenção para o fato de que alguns teólogos luteranos distinguiam somente dois ofícios, juntando o profético ao sacerdotal.
Desde os dias da Reforma, a distinção foi aceita em geral como um dos lugares comuns da teologia, embora não houvesse acordo geral quanto à importância relativa dos ofícios, nem quanto à sua inter-relação. Uns colocavam em primeira plano o oficio profético, outros o sacerdotal, e ainda outros o real. Houve quem lhes aplicasse a ideia de sucessão cronológica, entendendo que Cristo agiu como profeta durante o seu ministério público aqui na terra, como sacerdote em seus sofrimentos finais e em sua morte na cruz, e como rei age agora, que está assentado à mão direita de Deus. Outros, porém, salientavam acertadamente o fato de que se deve entender que ele agiu e age em sua tríplice capacidade em seu estado de humilhação e em seu estado de exaltação. Os socinianos, na verdade, reconheciam só dois ofícios: Cristo agiu como profeta na terra, e age como rei no céu. Apesar de falarem também de Cristo como sacerdote, incluíam subordinadamente a sua obra sacerdotal em sua obra real e, portanto, não reconheciam o seu sacerdócio terreno. Surgiu na Igreja Luterana considerável oposição à doutrina dos três ofícios de Cristo. Johann August Ernesti (1707-1781), teólogo alemão, dá um sumário das objeções que apareceram. Segundo ele, a divisão dos ofícios é puramente artificial; os termos profeta, sacerdote e rei não são empregados na Escritura no sentido presente nessa divisão; é impossível discriminar com clareza uma função em relação as outras, na obra realizada por Cristo; e os termos, como utilizados na Escritura, só são aplicados num sentido figurado e, portanto, não devem ter significados precisos a eles afixados, designando partes particulares da obra de Cristo.
Em resposta a isso, pode-se dizer que há pouca força na crítica ao uso dos termos, visto que são utilizados em todo o Velho Testamento como designativos daqueles que, nos ofícios de profeta, sacerdote e rei, tipificavam Cristo. A única critica realmente significativa se deve ao fato de que em Cristo os três ofícios estão agrupados numa pessoa. O resultado é que não podemos discriminar agudamente entre as diferentes funções constitutivas da obra oficial de Cristo. A obra meditaria é sempre realizada pela pessoa completa. Nem uma só obra pode ser limitada a qualquer dos ofícios.
Dos teólogos luteranos mais recentes, Wilhelm Reinhard (1860-1922), Johann Christoph Doederlein (1745-1792), Gottlob Christian Storr (1846-1805) e Karl Gottlieb Bretschneider (1976-1828) rejeitaram a distinção. Albrecht Ritschl (1822-1889) também lhe fez objeção, e afirmou que o termo “vocação” deveria tomar o lugar da palavra “oficio”, que se presta a mal entendidos. Disso, ele considerava a função ou atividade real de Cristo como primordial, e as funções profética e sacerdotal como secundárias e subordinadas, esta indicando a relação do homem com o mundo, e aquela, a sua relação com Deus. Ademais, ele acentuava o fato de que se deve afirmar o exercício da realeza profética e sacerdotal igualmente nos estados de humilhação e de exaltação. Haering segue a Titchl em sua negação dos três ofícios e em sua ênfase à vocação.
A teologia modernista é avessa à ideia toda, em parte porque não gosta da terminologia das escolas, e em parte porque se nega a pensar em Cristo como uma personalidade oficial. Ela tem tanta apreciação por Cristo como o “Homem” ideal, o Ajudador amoroso e o Irmão Mais Velho, tão verdadeiramente humano, que teme considerá-lo como um funcionário mediatário formal, desde que isto seria capaz de desumanizá-lo.
2 | A IMPORTÂNCIA DA DISTINÇÃO
A distinção dos três ofícios de Cristo é valiosa e deve ser conservada, a despeito do fato de que a sua coerente aplicação aos dois estados de Cristo nem sempre é fácil e nem sempre tem sido igualmente feliz. Explica-se o fato de Cristo ter sido ungido para um tríplice ofício com o fato de que o homem foi originariamente destinado ao exercício desse tríplice ofício e respectiva obra. Como criado pro Deus, ele foi profeta, sacerdote e rei e, nestas qualidades, foi adotado de conhecimento e entendimento, de justiça e santidade, e de domínio sobre a criação inferior. O pecado afetou a vida toda do homem e se manifestou, não somente como ignorância e cegueira, erro e falsidade, mas também como injustiça, culpa e corrupção moral; e, em acréscimo, como enfermidade, morte e destruição. Daí, foi necessário que Cristo, como o nosso mediador, fosse profeta, sacerdote e rei. Como profeta, Ele representa Deus para com o homem; como Sacerdote, ele representa o homem na presença de Deus; e como Rei, ele exerce domínio e restabelece o domínio original do homem. O racionalismo só reconhece o seu ofício profético; o misticismo, somente o seu ofício sacerdotal; e o quiliasma [doutrina do milênio] dá ênfase unilateral ao seu oficio real futuro.
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