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⥽ Devemos administrar fielmente, o que Deus nos confiou ⥼ João Calvino

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┘•┌ CONVOCAÇÃO: 82ª REUNIÃO ORDINÁRIA DO PRST

  São Vicente/SP, 04 de dezembro de 2023.     Assunto: Convocação à LXXXII Reunião Ordinária     Prezados pastores e Conselhos:     Por ordem do Presidente, reverendo Vulmar Dutra de Rezende, convoco o Presbitério de Santos (PRST) à LXXXII Reunião Ordinária , em data de 03 de fevereiro de 2024 (sábado), na Igreja Presbiteriana de São Vicente , sito à Av. Capitão-mor Aguiar, nº 612, Centro, São Vicente/SP, como segue: • 8h30 – Café da manhã , em recepção aos conciliares; • 9h30 – Início com o Ato de Verificação de Poderes . No Ato de Verificação de Poderes , os Presbíteros representantes das igrejas tomarão assento mediante a apresentação da Credencial (Carteiro de Presbitero) , Livro de Atas do Conselho e o Relatório e Estatística da igreja representada (CI/IPB, art. 68) . Os Pastores tomaram assento mediante a verificação de presença, devendo apresentar à Mesa a Carteira de Ministro e o Relatório Ministerial Anual . Os Secretários de Causas deve

┘•┌ SIMONTON: DISCURSO SOBRE OS MEIOS DE EVANGELIZAR O BRASIL

 

Rev. Lucas Guimarães | SE/PRST

Comemorados os 164 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), cujo marco histórico é a chegada do missionário americano, Rev. Ashbel Green Simonton, no Rio de Janeiro, em data de 12/08/1859, é oportuna a leitura do discurso proferido por ele ao plenário do Presbitério do Rio de Janeiro, reunido em 16/07/1867, sob o título de "Os meios necessários e próprios para plantar o Reino de Jesus Cristo no Brasil." Porque nele se tem o que se tornaria em legado à estratégia de evangelização do Brasil em três condições: eficácia na consolidação, relevância duradoura e caracterização presbiteriana. Como se faz entender o Rev. Simonton, que seja nossa convicção: somos fruto de apropriado planejamento humano e da obra providente de Deus à conversão dos ouvintes da Palavra ao senhorio de Cristo. Segue, pois, a transcrição do mencionado discurso:

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Os meios necessários e próprios para plantar o Reino de Jesus Cristo no Brasil

Rev. A. G. Simonton *

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O fim a que nos propomos é vasto e importante, além do que podemos conceber. Todavia, ele é simples é muito bem definido. Pretendemos tornar conhecido o evangelho e trazer o povo do Brasil a submeter-se a Jesus como seu único Salvador e Rei. Em outras palavras, temos em vista evangelizar no Brasil a paz que é o fruto da paixão, morte e intercessão de Jesus Cristo, a fim do que todos os seus habitantes venham a crer nele para a salvação.

Pode-se olhar este trabalho pelo seu lado humano e, também, pelo seu lado divino. É até necessário considerarmos todo o trabalho feito neste sentido: em parte, como trabalho nosso e, em parte, ao trabalho feito por Deus. O evangelho que pregamos é uma revelação divina. É da Palavra de Deus que tiramos todo o material às nossas pregações. No entanto, porém, a força eficaz para operar a conversão dos que ouvem vem do Espírito de Deus.

Quando se trata da regeneração da alma, Deus é tudo e o homem não é nada. Mas, igualmente, é absoluta a necessidade do concurso dos homens para que qualquer indivíduo ou nação se converta. "Vós sois o sal da terra." "Vós sois a luz do inundo." "Assim como o Pai me enviou a mim, assim eu vos enviei a vós." Por estas e outras passagens iguais, nosso Senhor declara a necessidade de esforços humanos para que a conversão do mundo seja realizada.

Assim o lavrador da terra tem de distinguir entre a parte que cabe a Deus e a que compete a si mesmo. Ele vira a terra, a planta e a cultiva, mas as proprie­dades da terra, que a fazem produzir, como também a chuva e o sol, que con­correrem para isso, vêm de Deus. O homem trabalha. Deus o abençoa e a seu tempo se colhem os frutos da terra. Disto, vemos que é bom distinguir o lado humano de qualquer trabalho do seu lado divino, tanto em relação às causas deste mundo como as do Reino de Cristo.

Tenho agora em vista indicar os meios próprios à conversão do Brasil. Deixando de parte, por enquanto, a menção particular do modo pelo qual Deus opera, quero falar sobre os meios que Deus tem posto ao alcance de sua igreja e pelo uso dos quais somos responsáveis perante o seu tribunal. Demos toda a atenção a este assunto, pois é muito certo que toda a dúvida sobre os resultados desta tentativa à propagação do evangelho limita-se ao uso dos meios da nossa parte. Deus não haverá de falhar nas suas promessas. À sua mão não é encurtada para não poder salvar.

Ocupando-me, pois, dos meios adequados à conversão das almas, que em torno de nós morrem à mingua do alimento, luz e forças espirituais, é eviden­te a necessidade da pregação do Evangelho. Até seria fácil resumir tudo quanto se pode avançar em relação à propagação da fé verdadeira, à pregação do Evangelho.

Em primeiro lugar, a boa e santa vida de todo crente é uma pregação do Evangelho. Esta é a mais eficaz! Na falta desta pregação, os demais meios empregados não haverão de ser bem-sucedidos. Os crentes são o sal da terra. A influência do seu exemplo se propaga constantemente e se torna irresistível. A um argumento, por melhor que seja, pode-se ao menos responder com um sofisma. Toda a pregação realizada por palavras – quer pronunciadas do púlpito, quer impressas em uma folha ou livro, pode ser refutada por outras palavras. No entanto, uma vida santa não tem réplica. A experiência de todos os tempos prova que o progresso do Evangelho depende, especialmente, da conduta e vida dos que são professos. Existe certas árvores que não dão fruto e sempre morrem de igual modo. A podridão sempre aparece primeiro no tronco e dele se estende lentamente para toda a parte até que a árvore, não podendo mais se suster, cai por terra. É assim que qualquer igreja definha e morre. O primeiro mau sinal é o esfriamento do zelo de seus membros e a falta dessa pregação do Evangelho, que se faz por meio de uma vida irrepreensível e santa.

Nós que temos a nosso encargo pregar o Evangelho do púlpito, corremos o risco a este respeito. Esperaremos, inutilmente, colher frutos dos nossos trabalhos se as nossas palavras não forem reforçadas e confirmadas por uma vida san­ta. A obra da conversão do Brasil ao Evangelho muito depende do caráter dos ministros, que tiverem de pregar em nome de Cristo. A não ser que estes sejam animados de um zelo puro e santo, de nada, ao contrário, aproveitará a sua pregação. Os que nos ouvem, meus irmãos, tem razão para exigirem que a nossa vida continue aquilo que ensinamos aos outros.

Quanto aos membros das igrejas confiadas a nossa direção, devemos ve­lar por sua conduta, admoestando e aconselhando a todos a que adornem a sua profissão por uma vida exemplar. Este dever requer paciência, mansidão e prudência a toda a prova, como também a coragem e o zelo que nascem de uma consciência do dever solene que temos de preencher.

Cuidemos, pois, primeiro que tudo, na pregação do Evangelho, por meio de uma vida santa e por meio da vigilância e oração, conservemos aceso o amor de Deus em nossos próprios corações, a fim de que possamos ser bem-sucedi­dos em nossos esforços ao bem dos que nos têm por seus pastores.

Outro meio de pregar o Evangelho é a disseminação da Bíblia e de livros e folhetos religiosos. Deste modo, pode-se dar notícias de Jesus a muitos que não querem assistir ao culto público. Nesta época, a imprensa é a arma pode­rosa para o bem ou ao mal. Devemos trabalhar para que se faça e se propague em toda a parte uma literatura religiosa, em que se possa beber a pura verdade ensinada na Bíblia.

Há diversos crentes ocupados neste serviço. São merecedores da nossa estima, como cooperadores. Devemos animá-los em seus trabalhos com nossos conselhos e orações constantes. Porém, todo crente deve ser induzido a fazer alguma coisa neste sentido. O cristão evangélico que do princípio do ano até o fim não espalha nenhum livro ou folheto e nem folha, não tem convicção do seu dever.

Olhando o futuro, temos aqui um vasto campo a percorrer. Tem-se sensível falta de bons livros. Atualmente, não existem. É preciso que sejam feitos e, depois de feitos, distribuídos e vendidos.

Outro meio de pregar o Evangelho ao alcance de todo crente é conversando com seus amigos, conhecidos e vizinhos e trazendo-os ao culto público. Quando se lança uma pedra em qualquer lago, cujas águas não têm movimento, vê-se formar um círculo, onde ela caiu. Esse círculo vai-se estendendo cada vez mais até que o movimento, que resultou do embate da pedra na água, perde-se sobre a praia. É assim que o evangelho se propaga. Cada crente deve comunicar ao vizinho ou próximo aquilo que recebe, até que toda a sociedade seja transformada.

Cuidar que toda a obra da conversão das almas fique ao encargo dos ministros do Evangelho, a isto particularmente consagrados, é um dos muitos prejuízos que devemos combater com todas as nossas forças. Os cristãos primitivos não pensaram deste modo. Cada um se esforçou para a propagação das boas-novas da salvação. Cada um tomou por modelo o apóstolo André: que apenas encontrou a Jesus e o reconheceu pelo Salvador esperado, foi dizer a seu irmão Simão: "Nós temos achado o Messias." Simão foi levado a Jesus e também creu nele. Exortemos aos crentes a que imitem este belo exemplo. Cada um procure a seu irmão, a fim de trazê-lo a Jesus. Cada um por meio de suas conversas, orações e instâncias, faça o possível para o aumento do número dos servos de Deus. Existem já bastante crentes, para que seus esforços unidos tenham grande importância. Devemos estimular e dirigir estes esforços de maneira que sejam mais frutíferos, orando a Deus para que dê a todos os crentes os mesmos sentimentos e uma só vontade no seu serviço.

Convém, todavia, que se faça menção particular da pregação do Evangelho por pessoas para isso designadas e ordenadas. O Evangelho mesmo ordena que este ministério seja confiado à pessoas de reconhecida aptidão e piedade, as quais não devem se ocupar em outra coisa. Embora os membros de qualquer igreja sejam zelosos no cumprimento dos seus deveres, não podem dispensar os serviços de um pastor bem instruído nas Escrituras e apto para ensinar publicamente. Estes requisitos nem todos os crentes os tem. Este ministério requer estudo, o qual poucos tem. Requer, mais ainda, prudência, abnegação e zelo, que Deus somente dá aos que vivem em sua santa comunhão, por meio de vigilância e oração constante. À vista da extensão do Brasil e das circunstâncias em que a igreja evangélica se encontra, como se haverá de achar ministros em número suficiente para que em toda a parte haja quem reparta o pão da vida eterna?

É questão grave e difícil. Porém, abrindo o Evangelho mesmo, deparamos com um verso cuja leitura faz-nos desvanecer todas as dúvidas a este respeito e nos indica a responsabilidade que nos cabe. Jesus Cristo disse a seus discípulos: "Rogai ao Senhor da Seara para que mande obreiros." O campo que cultivamos é do Senhor! Nisto temos uma garantia sólida. Compete ao Senhor mandar os obreiros. Aqui temos outra garantia. A responsabilidade dos servos de Jesus não passa do emprego de certos meios apontados. A oração é, particularmente, mencio­nada como meio próprio para que esta terra extensa, já branquejando próxima à ceifa, seja segada enquanto for tempo.

Ê dever nosso não só orar neste sentido, mas instar com os membros de todas as igrejas, debaixo do governo do nosso Presbitério, para que se lembrem de pedir ao Senhor a graça dele mesmo mandar obreiros à sua seara. Para Deus nada é impossível. Ele sempre acha os instrumentos de que carece. Se ele os quer de longe, não lhe faltará meios para os trazer. Se ele os quer achar perto, a seu tempo fará ver os seus escolhidos. Ele é capaz de fazer sair da boca de crianças um louvor perfeito. Ou se nem estas querem bendizer o Senhor, fará com que clamem as próprias pedras!

Porém, a escolha e a vocação de Deus não tornam desnecessários os nossos esforços. Se estes obreiros vêm de países estrangeiros, são obrigados a apren­der uma nova língua e se acostumar aos usos de uma nova terra. Este fato, de per si, faz acreditar que a maior parte dos obreiros no Brasil tem de ser do país.

Toda a experiência prova que Deus não vai longe em procura de seus instrumentos. Se não os acha já prontos à sua mão, ele os cria. Mas ele os cria, conforme um plano conhecido e já executado em muitas par­tes do mundo. Pela pregação do Evangelho, chama os seus escolhidos. Por seu Espirito, os ilumina, regenera e converte. Mas isto não é tudo. Nem todo cristão zeloso é apto para ensinar a seus semelhantes da cadeira evangélica. Por mais forte que seja a vontade de anunciar as boas novas de salvação a todo o mundo, sem estudos e a prática de falar não pode fazê-lo com bom êxito.

Não há dúvida. Deus pode por meio de dons extraordinários converter pescadores em Apóstolos, sem intervenção de escolas e nem livros. Aqui não se trata do poder de Deus. Sabemos que para o Senhor nada é impossível. A nossa tarefa se limita ao estudo do plano que ele, de fato, digna-se seguir na escolha e preparação de seus instrumentos. A conclusão a que chegamos é que na falta dos dons extraordinários, tais como o dom das línguas e o da inspiração divina, é forçoso haver escolas, livros e mestres. Aqueles que mos­trarem alguma vontade e aptidão para serem ministros da Palavra de Deus, deverão ser provados e preparados por estudos próprios a este fim.

Neste século, importa que os ministros de Cristo sejam instruídos não somente nas doutrinas da salvação, mas também nas ciências, a fim de que sejam capazes de dar uma razão de sua fé, em resposta aos que contradisserem a verdade. Todo o conhecimento é útil ao pregador do Evangelho e, quanto é possível, devemos esforçarmo-nos para não ficar aquém dos que nos rodeiam. São Paulo foi instruído em todos os conhecimentos da sua época e a ele coube o dever de explicar, com a maior perfeição, os grandes dogmas da fé de Cristo. Em todos os séculos, os servos mais influentes e mais úteis tinham, além dos superiores dotes da inteligência, estudos profundos e longos.

Outro meio indispensável para assegurar o futuro da igreja evangélica no Bra­sil é o estabelecimento de escolas aos filhos desses membros. Em outros países, é reconhecida a superioridade intelectual e moral da população que pro­cura as igrejas evangélicas. O evangelho dá estimulo a todas as faculdades do ser humano e o encaminha a fazer maiores esforços para se avantajar na senda do progres­so. Se assim não suceder entre nós, a culpa será nossa. Se a nova geração não for superior à atual, não teremos completado nosso dever.

É de confessar que a educação haverá de encontrar grandes obstáculos provenientes de muitas causas. Muitos pais são descuidados a este respeito e nem querem fazer os sacrifícios necessários para educarem seus filhos. Estes, da sua parte, não estando acostumados a obedecerem a seus pais, não gostam do regime de uma escola bem dirigida. Os costumes do país e a falta de confiança e moralidade não permitem que uma escola central seja frequentada por todos como sucede nos Estados Unidos. Faltam professores e professoras com a prática necessária para bem desempenha­rem esta missão e o governo ainda não admite a instrução livre. Mas é necessário não cedermos a nenhum obstáculo. Embora não seja possível desde já fazer o que se quer, devemos ter sempre em vista como alvo a instrução e educação da nova geração. Sendo este meio indispensável, temos razão em esperar que Deus nos proporcionará os meios de os atingir.

Terminando esta indicação dos meios próprios para plantar o Reino de Cristo no Brasil, não posso deixar de acrescentar mais outra consideração. O resultado do emprego destes meios, como também as forças precisas, dependem de Deus. Ficarmos no emprego dos meios sem pedir a Deus que opere por eles e com eles seria um erro fatal. Nada devemos empreender sem suplicar a Deus que envie do alto o seu Espírito para nos assegurar êxito. Portanto, a oração é a condição indispensável, a fim de que possamos sair bem do empreendimento aqui dado a seguir. A oração do justo, sendo fervorosa, pode muito. Se Deus é por nós, quem será contra nós? O meio de nos assegurar da presença de Deus é a oração. Vigiemos, oremos e trabalhemos. E Deus velará por nós e por sua igreja.

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* Texto com adaptação ortográfica à postagem extraído de: SIMONTON, A. B. O diário de Simonton – 1852-1866. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

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